sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Charlie

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Esta noite me roubou coisas preciosas que jamais recuperarei. Sinto-me roubado, mas não me sinto enganado por Jasper Jones. É um vazio curioso. Como quando você se muda para uma casa nova e não há móveis nem paredes familiares; o mesmo tipo de mistura esquisita de desamparo e transtorno. É uma sensação de solidão.

(C. Silvey in O Segredo de Jasper Jones, pp. 33)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Desculpe

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Desculpe.
"Desculpe" significa que você sente o latejar da dor do outro, como também sua própria dor, e que você assume parte dela. Portanto, isso nos une, nos assemelha. "Desculpe" é uma porção de coisas. É um buraco preenchido. Uma dívida paga. "Desculpe" é o acordar do delito. É a onda mutilada das consequências. "Desculpe" é a tristeza, assim como saber é tristeza. "Desculpe", às vezes, é autopiedade. Mas "Desculpe", realmente, não é sobre você.

(C. Silvey in O Segredo de Jasper Jones, pp. 191-192)

sábado, 28 de janeiro de 2017

A última carta

sábado, 28 de janeiro de 2017
Humanos. Somos todos iguais. Não há escapatória. Não importa se você é um careca inglês arrotando o alfabeto ou uma mulher matando galinhas no meio dos Andes. Não importa que língua você fale ou as roupas que vista. Algumas coisas não mudam. Famílias. Amigos. Amores. São os mesmos em toda cidade de todo país em todo continente do mundo.

(A Pitcher in: Nuvens de Ketchup)

domingo, 22 de janeiro de 2017

Nuvens de ketchup

domingo, 22 de janeiro de 2017
Sabíamos, sem dizer uma palavra, que nada podia acontecer, mas Aaron estendeu seu casaco na grama, e sentamos um ao lado do outro para ver o sol se pôr. As andorinhas riscavam o céu vermelho, de volta da sua aventura, e nós nos abraçamos embaixo das nuvens de ketchup, desejando que o tempo parasse e o mundo nos esquecesse por um momento.

(A. Pitcher in: Nuvens de Ketchup)

sexta-feira, 15 de abril de 2016

MM + AJ

sexta-feira, 15 de abril de 2016
Peguei uma pedra e me ajoelhei ao lado do banco enquanto em algum lugar do outro lado do mundo você se deitava pela última vez. Um relógio bateu meia-noite quando comecei a riscar minhas iniciais da madeira. Não fiz com força nem com fúria nem entre lágrimas. Foi calmo e silencioso. Quase suave. Mas, Stu, foi bom vê-las desaparecerem.

(A. Pitcher in: Nuvens de Ketchup)

sábado, 9 de abril de 2016

Para Stuart

sábado, 9 de abril de 2016
Seja lá o que esteja acontecendo com o seu coração, espero que fique livre e leve, como se fosse levar você direto para o Sol e flutuar no universo quando finalmente parar de bater. Você merece um pouco de alegria agora, Stu. Claro que você cometeu os seus erros, mas você encarou o seu crime e aceitou seu destino, então pelo menos a sua história termina com coragem. Honestidade. É algo do que se orgulhar.

(A. Pitcher in: Nuvens de Ketchup)

sábado, 2 de abril de 2016

Anna

sábado, 2 de abril de 2016
Quando alguém que você ama morre, as pessoas perguntam como você está, mas não querem saber de verdade. Elas buscam a afirmação de que você está bem, de que você aprecia a preocupação delas, de que a vida continua. Em segredo, elas querem saber quando a obrigação de perguntar terminará (depois de 3 meses, por sinal. Escrito ou não escrito, é esse o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que você jamais esquecerá).

(S. Ockler in: Vinte Garotos no Verão)

domingo, 27 de março de 2016

Minúcias

domingo, 27 de março de 2016
Eu posso ouvir seu coração batendo, como um animal ferido lançando o corpo quebrado junto às paredes da jaula. Uma bonita canção.

(H. Black in: A menina mais fria de Coldtown)

domingo, 20 de março de 2016

A casa abandonada

domingo, 20 de março de 2016
Aaron acenou, e eu acenei. Ele pousou a mão no vidro, e eu, a minha, e ele fez aquela cara de "estou imitando você", arregalando os olhos e piscando como se estivéssemos passado por um momento especial. E o mais engraçado foi que, de fato, estávamos, e nós dois sabíamos disso, e pos isso nossas bochechas queimavam exatamente com a mesma cor, o vermelho mais brilhante.

(A. Pitcher in: Nuvens de Ketchup)

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Os forasteiros

sábado, 20 de fevereiro de 2016
O medo é uma coisa engraçada - disse ele. - Se você convive com ele por tempo suficiente, ele vira um companheiro. Mas disso você já sabe, não é, Pulga?

(M. Paver in: Os forasteiros - Deuses e guerreiros)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Ponto de vista

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Quem olha para uma montanha distante não repara na beleza de um dente-de-leão que está bem na sua frente. E quem se aproxima para olhar o dente-de-leão não vê como é bela a montanha ao longe.

(N. Higashida in: O que me faz pular)

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Eu me chamo Antônio

domingo, 7 de fevereiro de 2016
Aí você compra um livro por causa do título, e acaba não gostando de quase nada relacionado à estética do mesmo. Pra falar a verdade, eu quase não conseguia ler as frases. E claro, não sabia que as frases eram pintadas em guardanapos, caso contrário é pouco provável que eu tivesse adquirido o livro.

E Antônio, quem é o Antônio? É a personagem fictícia que escreve as frases de boteco que estão rabiscadas nos guardanapos. É isso. Só isso. Pelo menos algumas frases se salvaram:

"Ah, se todos os erros fossem licenças poéticas..."

"Leve-me. O mundo anda tão pesado"

"Você tem: dívidas intermináveis, brigas desnecessárias, amores incompreensíveis. Mas tem também uma esperança inesgotável."

"É que às vezes, precisamos perder amores para ganhar poemas."

"Eu não sou amargo. É que, às vezes, a vida nos rouba a doçura."

"As coisas não mudam por dois motivos: ou é medo ou é tarde."

"Um dia, a liberdade será tamanha que abriremos as nossas asas sem ferir ninguém."

(P. Gabriel in: Eu me chamo Antônio)

domingo, 20 de dezembro de 2015

Gavriel

domingo, 20 de dezembro de 2015
A morte tem seus prediletos, como qualquer um. Aqueles que são queridos da morte não haverão de morrer.

(H. Black in: A menina mais fria de Coldtown)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Seema

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
Cada amor é diferente, embora eu ache que todos eles exijam um pouco de fé. Você tem de se permitir confiar em alguém, mesmo que isso lhe pareça a coisa mais assustadora e menos provável.

(B. Carter in: O mestre dos quebra-cabeças)

sábado, 14 de novembro de 2015

Margot

sábado, 14 de novembro de 2015
Sentia-se fria e pegajosa, e, embora ouvisse os próprios gritos, parecia-lhe que a voz que gritava não era a sua. A última coisa de que se lembrou foi o gosto do próprio hálito, amargo e pungente. E, com um sentimento de gratidão, entregou-se à escuridão, que a embalou e a levou para longe da dor.

(B. Carter in: O mestre dos quebra-cabeças)

domingo, 8 de novembro de 2015

Somente um tolo...

domingo, 8 de novembro de 2015
Agora compreendo que somente um tolo busca garantias no amor. O amor demanda tanto de nós que, em troca, tentamos garantir que ele dure. Nós queremos eternidade, mas quem consegue fazer tais promessas?

(A. Katsu in: Ladrão de Almas)

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Lanore

segunda-feira, 12 de outubro de 2015
O amor pode ser uma emoção barata, facilmente oferecida, apesar de que não me parecesse assim naquela época. Em retrospecto, sei que só estávamos tapando os buracos de nossas almas, do jeito que uma onda carrega areia para encher os orifícios de uma praia cheia de pedras. Nós, ou talvez fosse só eu, saciávamos nossas necessidades com o que declarávamos ser amor. Mas, no final, a onda sempre leva de volta aquilo que trouxe.

(A. Katsu in: Ladrão de Almas)

domingo, 28 de junho de 2015

Filadélfia & Jubileu

domingo, 28 de junho de 2015
As pálpebras das crianças estavam inchadas e vermelhas de capilares rompidos. A respiração era superficial. Os peitos subiam e desciam depressa demais. Hattie não sabia se Filadélfia e Jubileu estavam com medo ou se entendiam o que estava acontecendo com eles. Não sabia como consolá-los, mas queria que sua voz fosse a última coisa nos ouvidos dos filhos, que seu rosto fosse a última visão em seus olhos.

(A. Mathis in: As doze tribos de Hattie)

terça-feira, 26 de maio de 2015

Caindo fora

terça-feira, 26 de maio de 2015
Hoje postarei um conto que gosto muito, do livro "O que me faz pular", de Naoki Higashida. Já postei sobre esse livro antes, aqui no blog.

Esse conto me faz refletir sobre muitas coisas, uma delas é a necessidade que algumas pessoas têm de sempre parecerem - ou querer ser - umas melhores do que as outras. Algumas pessoas sofrem tanto por isso, que cruzam todos os limites possíveis e imagináveis de seus próprios valores e princípios. Penso que pessoas assim não vivem sua própria vida; vivem somente para tentar complicar e infernizar a vida dos outros.

- Eu corro mais rápido que qualquer um - disse a Lebre saltitando por todo lado.

- Mas nós duas apostamos uma corrida há muito tempo para resolver essa questão e eu fui a vencedora - respondeu a Tartaruga, irritada. - Eu sou a mais veloz.

Os outros animais não estavam nem um pouco interessados. "Ah, quem se importa?"

Mas a Lebre insistiu em outra corrida, então a Tartaruga acabou por concordar e as duas se dirigiram para a linha de largada.

A disputa entre a Lebre e a Tartaruga estava prestes a começar.

- Três, dois, um... Já!

A Lebre partiu em disparada.

A Tartaruga tropeçou e caiu de costas, o que fez com que todos os outros animais corressem em sua direção para ver se ela estava bem.

- Coitadinha, machucou? Melhor você ir para casa e descansar.

E todos carregaram a Tartaruga até sua casa.

A Lebre atravessou a linha de chegada.

Não havia ninguém lá além dela.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Bell

quinta-feira, 21 de maio de 2015
Tento encontrar a beleza nas coisas. Nos dias mais escuros eu sento na minha poltrona observando as nuvens. Penso no vapor subindo dos lagos e rios e das poças sujas nas esquinas e como as nuvens absorvem as partículas de água e chovem até a exaustão para desaparecer em fiapos. Essas nuvens, elas se sacrificam. A impressão que tenho é de que tudo está a caminho de se transformar em outra coisa, entregando-se pelo bem de algo mais.

(A. Mathis in: As doze tribos de Hattie)