segunda-feira, 31 de outubro de 2011

diaD

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Igual-desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade

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Gosto muito da poesia de Drummond. Mas esta, em especial, passei a gostar mais por conta de um acontecimento do semestre passado.

Curso de doutorado. 21 alunos pingados de Engenharia dentro de um auditório. Uma matéria intergalática sobrenatural que falava a respeito de Matemática Computacional, ministrada por um professor com descendência direta do Mestre Yoda. Para que pudéssemos entender 1/3 do conteúdo de uma aula, era necessária a leitura de algumas bíblias computacionais, tais como: Algorithms (Cormen), The Art of Computer Programming (Knuth), Computers and Intractability (Garey & Johnson), Concrete Mathematics (Knuth), Computational Complexity (Goldreich), Complexity of Algorithms (Lovász) etc.

A avaliação do curso foi dividida em 3 partes: 1 super-hiper-mega lista de exercícios impossíveis; 1 projeto de implementação de um jogo INÉDITO - e NP-completo - em plataforma Android; e, 1 prova Exame, em sala de aula, que ninguém conseguiria resolver, óbvio.

O que a gente não faz por 3 créditos... Ou melhor, o que a gente não faz por 3 créditos OBRIGATÓRIOS.

A turma foi informada de que o projeto seria avaliado no dia do Exame, minutos antes da prova, através de uma 'competição'. Os jogos seriam testados por todos da sala e depois seria realizada uma votação. O melhor jogo teria a melhor nota. Em uma sala de doutorandos iteanos, quem não quer ganhar uma competição? Haha, todo mundo quer.

Três projetos competiam. O primeiro grupo desenvolvia algo baseado em TSP (Travelling Salesman Problem), e o segundo estudava algo relacionado ao problema do Battleship Solitaire. Os dois grupos foram previamente formados, as pessoas já se conheciam. O grupo que eu estava foi denominado de "os que sobraram", risos. Trabalhamos em cima da idéia de cobertura de vértices, ou, Vertex Cover.

O nosso jogo ficou muito bom. Realmente inédito. O ÚNICO inovador. Merecidamente tiraríamos a melhor nota, estava claro. Com o primeiro lugar do podium já ocupado, as outras duas equipes começaram a disputar a medalha de prata.

Alguns dias antes da votação, o primeiro grupo (o do TSP) havia se envolvido em comentários do tipo: "houve plágio no segundo grupo", "encontramos na íntegra, via Google, o jogo do segundo grupo". Plágio é um assunto muito delicado no ITA. Ato digno de desligamento do curso.

Quem não tem cão, caça com gato. Chegou o dia da votação. Ficamos com o ouro e o segundo lugar parecia direcionado aos integrantes da segunda equipe (a do Battleship Solitaire). Mas aí rolou o assunto do plágio... É aquela coisa, se você não foi capaz de fazer algo que realmente valesse o primeiro ou o segundo lugar, qual seria sua atitute? Derrubar quem ocupa a primeira posição parece meio distante... Mas e a segunda? Pois é!

É aí que entra a experiência do Mestre Yoda II. Antes de lançar qualquer palavra à turma, distribuiu o poema Igual-desigual, de Drummond. Claro, o Mestre poderia ter sacado o seu sabre de luz e cortado todos em pedacinhos, mas preferiu nos fazer pensar a respeito das acusações infundadas. Que a lição tenha sido aprendida.

Em seguida, o Mestre se voltou para a lousa, lançou 5 perguntas como Exame. E ninguém conseguiu resolvê-las de modo satisfatório. Óbvio.


1 comentários:

Adriano disse...

Oi Luciana!
tudo bem?

Vc que é apaixonada por

Puzzles!!!

aqui um blog que Vc vai gostar!

http://desprediverselucruri.blogspot.com/